sexta-feira, 29 de março de 2013

Dissertando sobre Yes, músicas transcendentais (ou apenas música) e soldados de uma nave estelar

Os mais atentos devem ter reparado no nome e na URL do blog. The Revealing Science of God: Dance of the Dawn é a música de abertura do sexto disco de estúdio da banda inglesa de rock progressivo Yes, Tales from Topographic Oceans (1973). Lembro-me exatamente da primeira oportunidade que tomei contato com esse disco: Natal de 2011, tomando um vinho, em um quarto quase que totalmente escuro. Apenas eu, meus fones de ouvido, meu notebook e uma taça.

Ouça apenas se tiver paciência para 22 minutos e 25 segundos de música. Recomendo que ouça enquanto lê o post.

Pode parecer clichê, mas a música (e o rock prog, em particular) desperta, sim, certas situações em circunstâncias bem delimitadas. Se aliada a algum tipo de substância que, de certa forma, nos tire do estado sóbrio (e por essas e outras que eu adoro vinho, aliás), a percepção das coisas torna-se algo substancialmente novo em comparação ao que vemos rotineiramente, em nosso estado "normal". Finalmente, quem conhece um pouco da discografia do Yes sabe que o Tales é um disco com um nível de lisergia muito acima dos demais discos - embora confesse que ainda não conheço todos a fundo -, e isso colabora com o clima, permitam-me chamar assim, "meta-mental" da nossa percepção da realidade.

O contato inicial que tive com o Yes, no entanto, restringiu-se basicamente a esse disco, e coisas esparsas da discografia - músicas feitas para vender, aquelas que todo mundo já ouviu, embora isso não condiga exatamente com o perfil do Yes setentista. Fui despertar de vez para a discografia há menos de dois meses, mais precisamente com o quarto disco de estúdio, Fragile (1971) - que, arrisco-me a dizer, ainda é o meu preferido dentre tudo o que já conheço da banda. Na verdade, com licença poética, não sei dizer se eu despertei pro Yes ou o Yes despertou um eu com o qual eu mesmo nunca havia tido contato, embora confesse que as circunstâncias que me fizeram despertar o interesse na banda tenham colaborado com todo o enredo da história - mas isso é assunto pra outro post, quem sabe...

O fato é que poucas bandas me despertaram algo tão novo quanto os ingleses. Não só de uma perspectiva musical, aliás; considero-me praticamente um novo cara desde que comecei a ter algum contato com a música deles (e, volto a repetir, ainda não os conheço de forma "consistente" o suficiente para concluir algo a respeito, de uma vez). Não são a minha banda preferida, longe disso, embora seja muito provável que já tenham entrado pro rol das "minhas bandas preferidas". De todo modo, já pertencem àquela categoria de grupos que marcaram minha vida em algum momento - a esta categoria acrescento os Scorpions, o Metallica, o Iron Maiden, o Pink Floyd, o Rush, o Helloween e vários outros; um leitor atento deve ter reparado em quão díspares essas bandas são entre si.

Falar da qualidade técnica da música, e dos músicos, do Yes é chover no molhado; além do mais, a intenção do blog não é essa, e este tipo de discussão eventualmente o leitor pode encontrar no meu outro blog (alguns talvez conheçam), o Questão das Malvinas. De todo modo, é quase impossível dissociar a arte do artista, na maioria dos casos, e com a música não é diferente. Na minha perspectiva, os músicos do Yes passam uma sinergia, o tão falado feeling, fora do comum; talvez eles sejam o tipo de banda que agradam do crítico musical mais chato até o cara que não tem uma experiência musical muito grande, mas que tem bom senso o suficiente para assimilar os conceitos impostos nos discos - e estes conceitos são bem amplos, em particular no já citado Tales from Topographic Oceans e em seus respectivos antecessor e sucessor, Close to the Edge (1972) e Relayer (1974). Bill Bruford, baterista da banda até o Close to the Edge, foi o músico que mais me agradou logo de cara; tenho uma experiência muito curta enquanto baterista, mas sempre fui aficionado pela chamada "cozinha".

E por falar em músicos, um aspecto interessante do Yes (e de várias bandas prog) é que a música não tem o domínio de um ou dois deles (geralmente os guitarristas, ou guitarrista/tecladista); cria-se uma espécie de "núcleo" e os músicos trabalham, cada qual a seu modo e em seu respectivo instrumento. O ouvinte parece não ter acesso a esse núcleo, muito mais denso e complexo do que a maioria das coisas que se encontram por aí. Enquanto Steve Howe e Rick Wakeman (ou Patrick Moraz, no caso do Relayer) são convidados a criar seus solos, eles não o fazem de modo "abusivo", a tão chamada "fritação"; muito pelo contrário, o bom gosto com o qual eles impõem seu som é algo extraordinário. Enquanto isso, Chris Squire e o já citado Bruford (ou Alan White, no Tales e no Relayer) são também livres, embora de modo mais limitado que os anteriores, a inserir suas próprias impressões.

Esse é um aspecto interessante da música, como um todo: há de se ter uma liberdade criativa para todos os músicos, de modo a expressarem suas próprias influências de modo mais ou menos liberto das amarras da composição, como um todo, mas há de se ter muito cuidado para não transformar a música em algo cacófono (que não deixa de ser uma expressão musical, aliás, embora não seja de meu agrado). O Yes é uma das bandas que mais consegue contrabalancear estes dois opostos, a meu ver, e este sem dúvidas é um dos aspectos que transformam sua musicalidade tão esteticamente agradável. Música que agrada corpo, mente e espírito - este último sob sentido figurado, já que não acredito em nada metafísico, e talvez seja este outro assunto futuro por essas linhas.

É interessante, aliás, avaliar este lado meio místico da música, e o quão ela pode nos influenciar (pro "bem" e pro "mal", lógico - as aspas porque tais conceitos são meramente interpretativos). A influência que a música tem sobre cada um de nós é algo bem imediato: basta olhar para a década de 1960 e ver surgir o movimento hippie, ou o punk na década de 1970, ou o heavy e o thrash na década de 1980, só pra citar alguns exemplos, e verificar o quanto essas gerações foram influenciadas em seu modo de pensar, vestir, agir. Já essa mística é algo muito mais implícito, mas tão impactante quanto... algo que envolve muito mais que modos de pensar e de agir, mas que envolve quase uma ficção pela música e, muitas vezes, pela própria banda. Como se ouvinte, música, músico e compositor fossem todos uma coisa só, unidos por laços além da percepção racional.

Na verdade, acredito que a música se faz, também, pelo ouvinte. Não há como se admirar Chopin, ou Tchaikovski, ou Brahms, ou qualquer compositor erudito que seja, se o ouvinte não estiver preparado para a profundidade da música; da mesma forma, um ouvinte mais exigente obviamente sentiria-se incomodado com músicas supérfluas e mal trabalhadas. O emocional também contribui muito, bem como o estado psíquico e, lógico, o gosto musical de cada um. Mas uma coisa é certa: a música nos molda e, mais que isso, a música revela a verdadeira essência do ser humano em cada uma de suas mais diversas facetas. Não há nada mais humano que a música, em verdade, seja ela extremamente depressiva como um black metal norueguês ou a mais alegre das cantatas de Johann Sebastian Bach. Ou uma música do bom e velho prog inglês.


quinta-feira, 28 de março de 2013

Uma introdução ao blog

Todos nós temos certos pensamentos (que vêm com mais ou menos frequência, dependendo de nosso cérebros) que, por mais insignificantes que porventura sejam, sempre são dignos de registro. Algumas vezes, guardar pra si só não é suficiente. Humanos, por mais misantropos que ajamos, em muitas situações, necessitam de contato interpessoal. Se publicar tais devaneios em um meio mais sério, como uma revista, é algo risível, ter um espaço próprio para tais publicações, livre de quaisquer formalidades e cobranças, é sempre ótimo - e nenhuma ferramenta me soa mais atrativa, nesse sentido, que um blog. O intuito maior deste espaço é publicar, sem nenhum compromisso com um possível público, apenas por hobby, quaisquer coisas que passem pela minha mente insana, como forma de distração mesmo. Talvez uma faceta mais escancarada do que penso possa soar, de certa forma, assustadora pra quem não me conhece ou não tem muito contato comigo, mas a verdade é que postarei aqui o que me der na telha, sobre qualquer tema que me venha à mente.

Sem mais por ora. Espero que gostem do que for postado por aqui, embora o objetivo não seja agradar a ninguém. De qualquer forma, sintam-se à vontade para debater nos comentários; toda discussão, desde que sadia, é extremamente bem-vinda.